A produção global de resinas plásticas cresceu de entre 1,5 milhão a 5 milhões de toneladas anuais na década de 50 para uma estimativa de mais 270 milhões de toneladas em 2010. Só no Brasil, a produção e consumo de resinas termoplásticas passou de 5 milhões de toneladas no ano passado, ou quase 28 quilos por habitante, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). E, graças à sua durabilidade, quase todo plástico que foi produzido desde a criação da primeira resina, há mais de 140 anos, ainda está espalhado por aí, em aterros sanitários, nas margens de rios, nas praias e até no meio dos oceanos, a milhares de quilômetros de qualquer sinal de presença humana.
A poluição por plásticos é um problema global. Não existem barreiras nem fronteiras para os plásticos. Resíduos já foram encontrados em ilhas remotas do Pacífico, na Antártica e em muitos outros lugares onde não existe ocupação humana - diz Juliana Assunção Ivar do Sul, doutoranda do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenadora científica do projeto "Lixo marinho", que busca somar os esforços no estudo da questão no Brasil e concentrar os dados sobre ela.
A primeira vítima de toda essa poluição é a fauna marinha, já que durante os milhões de anos em que estes animais evoluíram eles podiam considerar praticamente tudo que caía na água como alimento. De acordo com relatório da ONG internacional Greenpeace, ao menos 267 espécies, entre tartarugas, mamíferos, pássaros marinhos e peixes, consomem resíduos plásticos ou os levam a seus filhotes julgando tratar-se de comida. Já a ONU calcula que mais de um milhão de pássaros e 100 mil mamíferos e tartarugas marinhas morrem por ano por comerem ou ficarem presos em restos de plásticos. Só no remoto Atol de Midway, próximo ao Havaí, o lixo que vai dar nas suas praias provoca a morte de metade dos 500 mil filhotes de albatrozes que nascem anualmente no local. Já no Brasil, levantamento recente de Fernanda Imperatrice Colabuono, Satie Taniguchi, Rosalinda Carmela Montone, também do Instituto Oceanográfico da USP, encontrou plástico no sistema digestivo de 28% dos pássaros marinhos recolhidos já mortos ou feridos no litoral do Rio Grande do Sul.O consumo de plástico pelos animais faz com que grande parte acabe morrendo, tanto por ação mecânica, como engasgamento, quanto por uma sensação falsa de saciedade. Eles param de comer porque estão com o estômago cheio, mas é de lixo - conta o biólogo da USP. - Em toda praia que eu fui nos últimos quatro anos, e foram muitas, eu vi pellets. É um problema ambiental que ocorre de forma disseminada do Sul ao Nordeste do Brasil. Até em locais como Fernando de Noronha eles estão presentes - acrescenta.
Mas os problemas gerados pelo plástico nos oceanos não ficam por aí. Por repelirem a água, as resinas acabam atraindo diversos outros tipos de poluentes hidrofóbicos, principalmente compostos orgânicos venenosos como pesticidas (DDT) e bifenilos policlorados (PCBs), funcionando como verdadeiras esponjas de sujeira. Estas substâncias - além do próprio plástico, tratado com aditivos tóxicos como bisfenol A, que podem causar câncer e infertilidade - vão se acumulando ao longo da cadeia alimentar e chegam aos seres humanos. Um zooplâncton, por exemplo, pode consumir um pedaço microscópico de plástico cheio destes poluentes. Depois, este zooplâncton é comido por um organismo maior, que por sua vez alimenta um pequeno peixe, comido por outros de tamanhos crescentes até chegar no atum, um dos maiores predadores dos oceanos. Por fim, este atum, carregado de produtos tóxicos, é pescado e servido em um restaurante.